9 de novembro de 2009

Eu Sinto (sua) Falta Outro

.
Num quarto que não é meu,
roupas que não são minhas.
Quarto apertado,
roupas largas.

Eu
por ruas de gente,
olho nos olhos e não aguento,
ando direto e não aguento,
chego perto e não aguento.
Sinto sua falta.

Sinto falta de colo, corpo, cama, quarto, casa.

No espelho eu não aguento,
no sono eu não aguento,
no coçar-me eu não aguento.

Sinto falta de você, outro.
Sinto falta de você, eu.

E como? agora de ombros e braços flácidos,
joelhos esticados,
pescoço esticado e duro,
olhos no escuro?

Sinto a falta de você, eu.

Agora não busco,
não ando,
não vejo.

Há muito perdi a graça.
E por nada,
nem um pedaço de celulose,
nem um montinho de sílica,
quero.
Não quero!

Não quero graça,
não vejo graça,
não tento graça,
não faço graça.

Há muito perdi.
O que fiz?

Sinto.
Falta.

A casa morre,
o quarto morre,
a cama morre,
o corpo morre,
o colo fecha.

Não tenho graça.

Eu
Outro
Sinto
Falta
(sua)
.

4 de novembro de 2009

O corpo corpo vivo

.
Depois do coração bater
e encorpar cavidades
repetidamente
a língua subir e descer
a barriga
o peito
a boca chupar e cuspir
o ar
se faz pesado
úmido
fechado
quente
significante
cheirando ao cheiro cheiro que o
ventre conhece
os caldos e carnes quentes
que entraram
e pelo
reto saíram.

A mucosa
embebida
abrindo e
fechando
rola por ela
a existência do outro
do outro
dentro
fora
escorrendo
pelo
pelo
outro
misturado com
outro.

O
fica
o cheiro cheiro
pelo
pelo
corpo todo.



Depois do coração
bater
e encher a veias
do fluido sanguíneo
repetidamente
a língua estalar e
travar
a barriga a boca
chupar e cuspir o ar,
o ar se faz pesado
úmido
fechado
quente
cheirando ao cheiro cheiro que a barriga
apodrece
os caldos e as carnes quentes que entraram
e
pelo reto
saíram.

As mucosas
embebidas
abrindo e
abrindo
enchendo
rasgando
a existência dos outros
menores
maiores
que o outro
fora
dos outros
escorrendo
tomando o
corpo cheirado
cheiroso
pelas
cavidades e pelos
barriga boca língua.

O fica
o corpo
corpo
seco
frio
cheiro cheiro
quente.
.

2 de novembro de 2009

D.C.

.
Me
diz culpa.

Te amo.
Você todamor meu.
Você,
não.

Você ismos.
Eu no alto.

Digo, culpa.
Você todamor.

Eu teu nome.
Eu qualquer nome.
Eu sem nome.
Eu sem nomes na boca.

Eu no auto.
Eu reto.

Desculpa.
Eu me amo você.
Você,
não.

Des-culpa.
Você você.
Eu Eu.

um beijo



De culpa
fica um espaço entre eu
você.

Apertado espaço você entre eu.

Você choro.
Você-(sempre-nunca) choro.
Eu me choro você.

Agora.
eu!
?
.

Vem. Fica.

.
Vida vem, vai.



Enquanto isso,
dorme do meu lado uma loira Terpsícore.

Um perfume sem cheiro no ar,
um hálito
que carrega meu peito
pra frente e pra cima
e pra trás e pra baixo.

Eu acordado
Uma garrafa na mesa
E a Paz, rolando de sonhos, dançando provocante sobre a minha cama.

Cada respiro um ar de seus seios me infla o tórax.
Cada instante paro e respiro seu corpo.
Cada eu acordado esperando vir seus olhos claros.

Dorme do meu lado uma loira Terpsícore.
Por quanto tempo dormirá.
.