3 de novembro de 2010

Novo mê(s) passado

.
Dois.
Finados.
Um ano passou
e o morto ainda vivo.

Passam Independência e Boa Morte.
Fica álcool de cana de interior de Mirim.

Ainda achava que chovia aí,
mas era aqui que já chovia torto,
pegando mais de um lado que de outro
de novo, lembro.

Novembro velho choveu em mim.
Novembro novo choveu em mim.
Aí, seca, de interior de terra mau lavrada.

Aqui O que é que é que vem cá?
E quem Sou eu quem ando já lá?
Alto! ?
Baixo! pois, se ainda for me mato.
Mas mato-cana verde me pensa bem.
É esse formato quina.
Que me repete
e pede
fim.



(suspiro)
Três de novembro.
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2 de agosto de 2010

ponto de vida

.
Ossudo brinca, ossudo recebe,
ossudo brinca, ossudo leva,
ossudo brinca, ossudo toma,
ossudo aguenta...
ossudo não aguenta,
ossudo, agora, é unhudo e seco.
.

10 de junho de 2010

Ligeira

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Lenta,
bem lenta,
a lugares impróprios
voando com o veneno de hágua
Flecha foi feriu minhas estrelas às noveembraços.

Se braços próprios,
curar pra que?
A perna que me falhe
Na cama uma graça
manca e torta
em graça mais minhas mãos
cirúrgicas te abrindo
os ossos
macias se esquentando em tu a
pelada.

Sobre mim
sabe.
virtual, um outro
Conhece físicorporal
sobre mim.
termina nunca,
termina nunca...
em tornando me suco.
Lenta,
bem lenta,
.

1 de junho de 2010

Tirei tuas vírgulas de propósito

.
Fiz um poema pra você
Não achei demais
Minhas mãos se exigem
a escrever pros teus olhos
Não sou poeta
Escrevo pros teus olhos verem os meus

Nessas nossas
perdi um ônibus por você
perdi outros ônibus com você
E assim perdendo pra onde vou?

Perderia outros tantos
pra me achar perdido nesse ponto-você
pra te achar mais mais
pra me achares sem mapa
num nu de nós
esperando a resposta de um salmão e fondue de chocolate
.

31 de maio de 2010

Livros abertos e corpo

.
Deem-me poemas de amor,
porque ontem dormi ecos de Kandinsky,
amanheci Neruda
e cedo pelas horas sangrei drummundo:
o sentimento pesado sobre os ombros.

Chorei raiva no braço
e as pernas tremeram o ódio
de amar uma tristeza.

Embolei o corpo num lençol esticado:
deem-me amor de poemas.
E então poema-você-nova me disse
quinta, Ana.
Um mar ionizado e elétrico veio como Hermes me dizer
durma cor você também.

E um dia mais sonequei a tarde toda
pra dormir os poetas e acordar a minha

Matilde viva em ti
ouviu meu peito
de tímpano negro e burana
explodir um amarelo trombeta
ascender quente napolitana
e deitar com a noite chilena.
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14 de abril de 2010

impotente impessoal perplexidade do fim

.
eu te arrebento meu mundo.
tua arte me fundo.
come horas do tempo
minuto que - filha da puta! - deitou na cama.

tua, meu espelho d'água.
tua identidade nula.
fosse tua outra mesma minha seria.

agora tua tua minha mão vagina.
embora.
por minha minha teu você fugida.
.

Poema do amor concreto

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Foi-se fazendo um amor tão grande
que se chegaria aos céus,
chegaria ao Deus,
chegaria aos infinitos.
Foi-se fazendo um amor,
um amor babilônico.

                 Os amorosos colocavam os grandes amores por baixo
                 para segurarem os pequenos amores que viriam depois.
                 Os amores de baixo eram grossos e robustos,
                 enormes,
                 eram a base;
                 Os pequenos, os detalhes, a beleza...
                 a parte que tocaria lá em cima.
                 
                 Esse era o projeto dos amorosos,
                 reunir os amores todos
                 para que se chegasse ao Amor.
                 
                 Sobrepuseram vários amores:
                 Loucos, platônicos, correspondidos
                 incorrespondidos, negros, briguentos, etc
                 Juntaram tudo numa imensa torre.
                 
                 Lá em cima, Deus esperava: olhou,
                 olhou de novo...
                 E por fim,
                 Decidiu mudar de céu.


7 de novembro de 2007
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6 de abril de 2010

Pé de fruta e Shiva

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Me come em cima do pé
que é pra eu não deitar e lembrar de ti.

Me deixa soltar, cair e me espatifar pela terra
que é pra eu morrer e lembrar de mim.
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4 de abril de 2010

Antidepressivo nº 1

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Deixar o dia pra depois da aula.
Deixar o doce pra depois do arroz.
Deixar a sesta pra depois da louça.
Deixar o samba pra depois do labor.

Pausa para o pôr-do-sol.

Deixar a noite pra depois do dia.
Levar o sexo para o fim da noite.
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31 de março de 2010

Ser deus

.
Eu queria escrever umas coisas como você.
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30 de março de 2010

Minhas coxas me respondem você

.
As coxas que ficaram na pele das minhas!
Ar de fruta cica no meu
dormente peito explode pra dentro
suga meus ombros.

Mar de morros
de outros sopros.
(Viajo longe
e viajo nunca.)
Em que perdi meu olhar,
perdi meu corpo,
perdi os braços,
perdi as pernas,
perdi as pernas,
perdi no pênis.

Tens razão, o amor é sexualmente transmissível.
Nem que seja teu amor em outros.
se transmuta em “por ti”.

(Veneno que sobe rápido e rasga a coxa em tensas e espasmantes.)

Um vazio pleno, fugaz e cheio, transbordante escorre você de mim.
E teus pelos e não-pelos massageiam meu carinho na tua cova de dormir,
de eu dormir em você,
de dormir um pra sempre fundo (até quando?) em você.

A, delícia! Tua língua me ouvindo o dentro.
Teu relevo me aquecendo um sentir forte de olfato.
E é você esse som murmurante, baixinho e explícito, que me infla
a ser Eurói.

Cadência do teu rio rolando pelas minhas pedras,
ao fundo fundo
mar onde me perco
afogo.

A Insolação.
Arrombou silenciosa minha pele.
“Guarda-te o amor.
Teme essa felicidade.”

Minha ferida ferida por ti.
Minha felina aberta
me arrisca a pele cardial.
Na cama
uma vez mais.
A levantar a madrugada de mim,
nua.
.

Minhas

.
Minhas antes paixões filhas de putas,
como as xingo!
Mulheres de quem respirei
como as leveduras se nutrem de glicose!
pelas quais fui furado,
vazando todo meu éter espesso pelo chão.

Gatunas de minha força e ação:
fletida minha pena a uma flacidez inútil.

Meses
e não escrevo pra sentir pra escrever
novo caminho.

Feitoras de minha melancolia:
fugidas com minhas mãos em seus corpos.


Minhas ante paixões, filhas da puta,
ainda pra sempre as sangrarei.
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