18 de maio de 2009

Bilhar

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Quatro bolas, duras, das de bilhar, na mesa:
Uma branca, maior, e três outras coloridas.
A branca bate, empurra, esbarra, resvala e joga as outras pra lá e pra cá.
De frente, de raspão, de tabela pro outro lado.
Às vezes bate e volta, às vezes bate e fica. Outras, bate e continua batendo.
Mas ninguém cai.
Dá um toquinho. Dá uma encostada. Dá um encontrão. Dá um porradão.
Peraí!
grita uma bola das coloridas, achas que só porque é branquinha podes ficar mandando nas direções, eu vou pra onde me der na telha. Tchau!
Aí o cara do taco se revolta, puta merda de bola, tá loca. Ora corre, ora foge, ora pára.
É a mesa que tá torta.
Torto tá seu pau (esse é o dono do bar), seu bêbedo, mesa de bar meu é boa, ardósia de primeira.
Vai vender cachaça que é o melhor que você faz, vai, seu Rivelino.

Nessa hora, o poeta, sentado lá no fundo se levanta, deixa duas notas, uma pra conta, outra pro garçom, sai de fininho, com o caderno, em branco, na mão esquerda ouvindo o barulho da confusão lá atrás.

29 de dezembro de 2008
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Circus

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Com cheiro de pipoca e churros,
a arquibancada e o picadeiro.

Desfilam, sonoras, as atrações num rastro rápido de oito deitado pelo palco
saindo e entrando, balançando as cortinas das coxias.

Sob as pálpebras, brilham meus olhos de tantas cores
que nunca imaginara, nem saberia o nome que poucos talvez souberam.

Tantas cores
e tantos sons e tantos cheiros e gentes.

A primeira gente da noite:
O equilibrista
no monociclo em movimento, equilibra pratos que giram sobre varetas que giram, e ele gira, e nada cai.

A segunda gente da noite:
O mágico
serra a mulher em duas, e com duas fica, e de duas faz uma só de novo. E aplausos enchem o espaço sob o
[grande lençol.

A terceira gente da noite:
O trapezista
pula e gira, de braço em braço, de trapézios em pernas, de braços em piruetas até um outro ponto
[quasescondido no alto do mastro.

A quarta gente da noite:
O palhaço malabarista de facas, vestido em espelhos,
joga, leve, facas para cima, brilhando, girando, de mão em mão. Rindo piadas, brincado de clown, joga.
Joga, e como dera certo com ovos,
as lança para cima
e escancara a bocarra.
Passa fácil pelo corpo,
como o milho da pipoca, como o churros.

Não tivesse esquecido o coração no caminho.

A corda,
toca em meu peito,
um novo que já tocou em algum lugar:

Escorre pelo encordoamento,...............................................G9 G7+(9)
minhas lágrimas e seu sangue...............................................
mistura com a terra.............................................................C9 e|-3--3-0-|
.........................................................................................C9/G e|-0--0-3-3-0----|-0--0-3-3-5-|
Saindo e entrando,...............................................................C/G
do Átrio,
fugindo, escapando,.............................................................Am
cuspidos e sugados, das coxias,............................................A9
passa aquela gente...............................................................A7+(9)
de macacão pendurado pela cintura,......................................Am
marca de cartola no cabelo embaraçado,................................ A4
cara meia pintada, meia limpa.
.........................................................................................D9/A Dm/A
.........................................................................................D4/A (12 vezes) ...

Vê? Soa.

Caí rasgando a mulher ao meio enquanto a flecha girava.

Soa. Vê?

Choro de madrugada fria arregalada.

Ré:.....................................................................................D7+

sensações e sentimentos
quando se confundem
inverti a ordem dos sentidos
quando
nós somos da platéia
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14 de maio de 2009

Vivo

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Re-vejo,
    -leio,
    -escuto,
    -lembro,
    -sinto.

E cada vez mais gosto menos de mim,
mais gosto menos de mim antes,
menos confio mais em mim agora,
mais confio menos em mim depois.

Mas posso ser Renato a cada dia,
colocar um hífen pra separar o que se deve
e aglutinar o que renova.

Voltar e evoluir,
revolver e atirar-me aos dez ou sete traços que só-riso marcou.

Estando bem,
refaço-me a cada dia:
em helicoidais irregulares.

Sinto fé-cundar-me para mais umas voltas...
Assim vou,
levado por mim, pelo tubo temporal até ser bombeado de novo.
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4 de maio de 2009

Antiáguadade

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Pode a pátria nos tirar (d)os seios e (d)a casa confortável
para brigarmos uma luta de poucos?
Em nome de um objetivo que alguns esclarecidos almejam,
é necessário deixar-mos a pars urbana para convertermos a cegueira em luz?

Onde está minha luta, agora?
Na mata de Apocalipse Now,
Estação da Luz pegando fogo no escuro,
franceses num Brasil inglês.
Onde está minha luta, agora?
A multidão de corpos que podiam ser orgia me engana a vista:
frios trombados nos outros.
Onde está minha luta agora?

Em nome da polis perdes na ida e na volta.
Com a casa seca de comida, te atiram a cataputa na cara,
mas tua lança resiste na caça ao peixe de águas quentes e coletivas, não públicas, púbicas.

E aquele que já não navega mais sobre Buquerina
vê na água o espelho torto e fluido sangrado que não penetra mais seus dedos,
mas os engole, como a todo o corpo submerso,
deitado no leito da pátria e sem luz.

O sangue da luta, da água, da conspiração da terra,
da cooperação dos grãos de terra, invade, derruba, domina a bandeira flácida.
Perde-se a guerra?
Umas outras tornarão.
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Pode, mas dói. ↔ Não dói, mas não pode.

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Sonha não doer.
Sonha poder.

Os primeiros ouvem Sade:
O doce meloso som pra acariciar as mentes
e o apaziguador texto de alma frustrada.

Os próximos lêem Sade:
O inquietante texto de corpo latejante
E o azedinho som melado da pele em pêlos.



Interjeições e onomatopéias!

Seria bom se não amassem sádicos.
Seria bom se não comessem ouvintes de Adu.

Você é o que você ama.
Ah! cadê? meu Marquês romântico?



...

Sonhe o não poder.

Sonhe o doer.
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