21 de maio de 2014

Vivo morto

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Um corpo vivo morre.
Corpo frio.
Músculos duros.
Vísceras moles.
As unhas crescem.
A pele apodrece.
Membrana do corpo pro mundo esburaca.
Agora os humores vazam,
escorrem, transbordam e jorram.
E o corpo vivo ainda morre.
Em jatos ejacula vida morta.

Espalhados pelo corpo,
bandanas, esparadrapos e pedaços de outras peles.
Cobrindo cada buraco um enxerto de pele roubada aos poucos
apodrece e desfalece.
Buraco velho de novo esguicha,
o corpo contrai as costas, rasga o abdome, expõe as vísceras.
Agora roubar um outro corpo,
inteiro.
Colá-lo à pele toda e andar a dois,
um morto e um vivo,
um vivo e um morto.

Os corpos grudarão,
então se rasgarão,
cairão moles e duros,
seccionados em partes desiguais.

Agora são dois corpos
procurando dois corpos
cada um.
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